Conflitos sobre práticas de cura: uma análise discursiva da pajelança cabocla na Belle Époque paraense

Autori

DOI:

https://doi.org/10.18764/1983-2850v17n50.2024.14

Parole chiave:

discurso, pajelança, Medicina, Imprensa, controle social

Abstract

A pajelança, a despeito de sua importância cultural e espiritual, enfrentou uma perseguição impiedosa da parte das autoridades médicas e judiciais em campanhas difamatórias na imprensa paraense durante a passagem do século XIX para o XX. Em um período em que a modernização urbana e o sanitarismo eram priorizados pelas autoridades políticas do país, a pajelança era significada como uma ameaça ao monopólio da cura que os médicos acadêmicos buscavam estabelecer. Diante do exposto, o objetivo deste artigo, apoiado teórica e metodologicamente na Análise do Discurso materialista, é analisar os efeitos de sentido sobre a pajelança na imprensa paraense, destacando as tensões quanto ao sentido dessa prática xamânica entre o final do século XIX e início do XX. Na primeira parte, trabalharemos as noções teóricas que nortearão este estudo, além de discutirmos as disputas de sentido sobre a pajelança. Em seguida, avançaremos na reflexão debatendo a Imprensa e a concepção antagônica quanto às práticas alternativas de cura no Pará. Por fim, apresentaremos a análise discursiva do corpus composto por recortes de matérias jornalísticas. Encerraremos este texto com as considerações finais, retomando a complexidade das disputas de sentido, bem como as relações de força que se materializam nos discursos.

Downloads

I dati di download non sono ancora disponibili.

Biografie autore

Flaviana Moraes Pantoja, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Doutoranda do Programa de Pós- Graduação em História da UFRRJ. Mestre em História pela UFRRJ (2018). Graduação em História (Licenciatura/ Bacharelado) pela UFPA (2014).

Dilermando Moraes Costa, Universidade Federal Rural do Rio e Janeiro

Doutor em Humanidades, Culturas e Artes pela Universidade do Grande Rio, UNIGRANRIO, Brasil (2017). Docente Efetivo EBTT do Colégio Técnico da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CTUR/UFRRJ).

Riferimenti bibliografici

ALTHUSSER, L. Aparelhos ideológicos de Estado. Rio de Janeiro: Graal, 1970.

BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil. 1891. Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/consti/1824-1899/constituicao-35081-24-fevereiro-1891-532699-publicacaooriginal-15017-pl.html> Acesso em: 21 jun. 2024.

BRASIL. Decreto 847, de 11 de outubro de 1890. Código Penal dos Estados Unidos do Brazil. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/d847.htm> Acesso em: 21 jun. 2024.

CASTRO SANTOS, Luiz Antônio de. O pensamento sanitarista na Primeira República: Uma ideologia de construção da nacionalidade. Dados. Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 28, n. 2, p.193-210, 1985.

CAVALCANTE, Patricia Carvalho. De “nascença” ou de “simpatia”: iniciação, hierarquia e atribuições dos mestres na pajelança marajoara. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Pará, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Belém, 2008. 104 f. s

DELA SILVA, Silmara; SANTOS, Regiane Gomes dos. A mídia e os dizeres sobre o professor no Brasil: uma análise do discurso jornalístico. Cadernos de Letras da UFF, v. 28, n. 57, p. 299-317, 2018.

DOSSE, François. História do estruturalismo: o campo do signo (1945/1966). Vol. 1. Tradução de Álvaro Cabral. Bauru, SP: Edusc, 2018.

FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. Anfiteatro da cura: pajelança e medicina na Amazônia no limiar do século XX. In: Artes e ofícios de curar no Brasil: Capítulos de história social. 2003. p. 273-304.

FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2017.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1998.

GALVÃO, Eduardo. Santos e Visagens: um estudo da vida religiosa de Itá, Baixo Amazonas. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1955.

GOMES, Adriana. Um crime indígena ante as normas e o ordenamento jurídico brasileiro: a criminalização do espiritismo e o saber jurídico na Nova Escola Penal de Francisco José Viveiros de Castro (1880-1900). Tese de Doutorado, UERJ: Rio de Janeiro, 2017.

GREGOLIN, M. R. V. Formação discursiva, redes de memória e trajetos sociais de sentido: mídia e produção de identidades. In: BARONAS, R. L. (org.). Análise de discurso: apontamentos para uma história da noção-conceito de formação discursiva. Araraquara: Letraria, 2020, p. 377-393.

LACERDA, Franciane Gama; SARGES, Maria de Nazaré. De Herodes para Pilatos: violência e poder na Belém da virada do século XIX para o XX. Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História, v. 38, 2009.

LAVELEYE. Didier de. Distribuição e heterogeneidade no complexo cultural da "pajelança". In Pajelança e Religiões Africanas na Amazônia. Belém: EDUFPA, 2008.

LÉVI-STRAUSS, Claude. O feiticeiro e sua magia. Antropologia estrutural, v. 5, p. 193-214, 1975.

MAUÉS, R. Heraldo. Catolicismo e Xamanismo: comparação entre a cura no Movimento Carismático e na Pajelança rural amazônica. Ilha – Florianópolis, v. 4, n. 2, dezembro de 2002, p. 51-77.

MAUÉS, Raymundo Heraldo. A pajelança cabocla como ritual de cura xamânica. In: MAUÉS, Raymundo Heraldo; VILLACORTA, Gisela Macambira. (Org.). Pajelanças e religiões africanas na Amazônia. Belém: EDUFPA, 2008.

MAUÉS, Raymundo Heraldo. Um aspecto da diversidade cultural do caboclo amazônico: a religião. Estudos avançados, v. 19, p. 259-274, 2005.

MAUÉS, Raymundo Heraldo. Uma outra “invenção” da Amazônia: religiões, histórias, identidades. Belém: Editora Cejup, 1999.

ORLANDI, E. L. P. Discurso em análise: sujeito, sentido, ideologia. 3. ed. Campinas: Pontes Editores, 2017a.

ORLANDI, E. L. P. Eu, tu, ele: discurso e real da história. 2. ed. Campinas: Pontes Editores, 2017b.

ORLANDI, E. P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 12. ed. Campinas: Pontes, 2015.

PÊCHEUX, M. A análise de discurso: três épocas. In: GADET, F.; HAK, T. Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. 5. ed. Campinas: Unicamp, 2014c, p. 307-315.

PÊCHEUX, M. Análise automática do discurso (AAD-69). In: GADET, F.; HAK, T. Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. 5. ed. Campinas: Unicamp, 2014a , p. 59-158.

PÊCHEUX, M. O discurso: estrutura ou acontecimento. 7. ed. Campinas: Pontes, 2015.

PÊCHEUX, M. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. 5. ed. Campinas, SP: Unicamp, 2014b.

PÊCHEUX, M.; FUCHS, C. A propósito da análise automática do discurso: atualização e perspectivas. In: GADET, F.; HAK, T. Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. 5. ed. Campinas: Unicamp, 2014, p. 159-249.

PÊCHEUX, M.; GADET, F. A língua inatingível. In: ORLANDI, E. P. Análise de Discurso: Michel Pêcheux. 4. ed. Campinas, SP; Pontes Editores, 2015, p. 93-105.

PESAVENTO, S. J. Crime, violência e sociabilidades urbanas: as fronteiras da ordem e da desordem no sul brasileiro no final do séc. XIX. Estudos Ibero-Americanos, [S. l.], v. 30, n. 2, 2004. DOI: 10.15448/1980-864X.2004.2.1314. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/index.php/iberoamericana/article/view/1314. Acesso em: 22 jun. 2024.

POSSIDONIO, Eduardo. Caminhos do sagrado: ritos centro-africanos e a construção da religiosidade afro-brasileira no Rio de Janeiro dos oitocentos. Tese de Doutorado, UFRRJ: Seropédica -RJ. 2020.

RODRIGUES, Silvio Ferreira. Esculápios tropicais: a institucionalização da medicina no Pará, 1889-1919. Dissertação de Mestrado: UFPA. 2008.

SAMPAIO, Gabriela dos Reis. Nas trincheiras da cura: as diferentes medicinas no Rio de Janeiro imperial. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, CECULT, IFCH, 2001.

VAZ FILHO, Florêncio de Almeida. Pajés, benzedores, puxadores e parteiras: os imprescindíveis sacerdotes do povo na Amazônia. Santarém: UFOPA, 2016.

Pubblicato

2024-09-27

Come citare

PANTOJA, Flaviana Moraes; COSTA, Dilermando Moraes.
Conflitos sobre práticas de cura: uma análise discursiva da pajelança cabocla na Belle Époque paraense
. Revista Brasileira de História das Religiões, v. 17, n. 50, p. 1–17, 27 set. 2024 Disponível em: http://519267.outdoorhk.tech/index.php/rbhr/article/view/23844. Acesso em: 30 nov. 2024.