Neoliberalismo, avaliação externa e a invenção do TDAH: uma análise foucaultiana
DOI :
https://doi.org/10.18764/2178-2229v31n3.2024.39Mots-clés :
neoliberalismo, racionalização da prática governamental, cultura da avaliação, doenças do não-aprender, TDAHRésumé
Este trabalho pretende uma articulação entre as práticas de avaliação externa, o neoliberalismo e a propagação das novas “doenças do não-aprender”. Trazemos, inicialmente, as análises de Foucault acerca do neoliberalismo para indicar como esta forma de racionalidade econômica e política consiste na produção de um Estado vigilante com vistas à instauração e regulação dos mecanismos da concorrência nos mais diversos extratos sociais. Em seguida, abordamos as práticas de avaliação externa, de larga escala e censitária, em sua breve história, em seu funcionamento e em suas parcerias, como um braço de ação do neoliberalismo. Por fim, indicamos como as novas “doenças do não-aprender”, especialmente o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), consistem na formação de um dispositivo psiquiátrico capaz de produzir enormes mecanismos de exclusão na dinâmica concorrencial alimentada pela racionalização dos processos de avaliação externa.
Téléchargements
Références
ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado. Rio de Janeiro: Graal, 1985.
AMARO, Ivan. Avaliação externa da escola: repercussões, tensões e possibilidades. Est. Aval. Educ, vol. 24, n.54, p. 32-55, 2013.
BAKKER, Nelleke. Harmless disease: children and neurasthenia in the Netherlands. In: Cultures of neurasthenia from beard to the First World War. Amsterdam: Rodopi, 2001, p. 309-327.
BARBETTI, Henrique. A historical phenomenology of attention deficit/hyperactivity disorder. 2003. Tese de Doutorado. Faculty of the McAnulty college and Graduate School of Liberal Arts, Duquesne University, Duquesne.
BENEVIDES, Pablo. Verdade e Ideologia no pensamento de Michel Foucault. ECOS-Estudos Contemporâneos da Subjetividade, v. 3, n. 1, p. 88-101, 2013.
BROOKE, Nigel; CUNHA, Maria; FALEIROS, Matheus. A avaliação externa como instrumento da gestão educacional nos estados. Estudos & Pesquisas Educacionais, São Paulo, v. 2, p. 17-79, 2011.
CALIMAN, Luciana. A constituição sócio-médica do “Fato TDAH”. Psicol. Soc., v. 21, n. 1, p. 135-144, 2009.
CALIMAN, Luciana. Notas sobre a história oficial do transtorno do déficit de atenção/hiperatividade TDAH. Psicologia: ciência e profissão, v. 30, p. 46-61, 2010.
CHRISTOFARI, Ana Carolina. Modos de ser e de aprender na escola: medicalização (in)visível? 2014. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
CONRAD, Peter Identifying hyperactive children: the medicalization of deviant behaviour. Lexington: Lexington Books, 1976.
DILLER, Lawrence. Running on Ritalin A physician reflects on children, society, and performance in a pill. Canadá: Bantam Books, 1998.
DEGRANDPRE, Richard. Ritalin Nation. New York: Norton, 2000.
DELEUZE, Gilles. Post-scriptum Sobre as Sociedades de Controle. In: Conversações. Rio de Janeiro, Editora 34, 1992.
DRAIBE, Sônia. O padrão brasileiro de proteção social: desafios à democratização. Análise de Conjuntura, vol. 8, n.2, Curitiba, 1986.
DUPANLOUP, Anne. LHyperactivité infantile: Analyse sociologique dune controverse socio-medicale. 2004. Tese de Doutorado (Faculté des Sciences Economiques et Sociales). Université de Neuchâtel, Neuchâtel.
EIDT, Nádia. Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade: diagnóstico ou rotulação? 2004. Dissertação de Mestrado (Psicologia Escolar). Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas.
ESPING-ANDERSEN, Gosta. As três economias políticas do Welfare State. Lua Nova, n. 24, vol. 1, p. 85-116, 1991.
FERNANDES, Cleonice; MARCONDES, Jeisa. Tdah: Transtorno, causa, efeito e circunstância. Revista de Ensino, Educação e Ciências Humanas, v.18, n.1, p.48-52, 2017.
FOUCAULT, Michel. O Poder Psiquiátrico. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
FOUCAULT, Michel. Segurança, Território, População. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
FOUCAULT, Michel. O Nascimento da Biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2008
FOUCAULT, Michel. Os Anormais. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 1997.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1988.
FRANCES, Allen. Voltando ao normal: como o excesso de diagnósticos e a medicalização da vida estão acabando com a nossa sanidade e o que pode ser feito para retomarmos o controle. Rio de Janeiro: Versal Editores. 2016.
GARCIA, Amanda. Como os processos de medicalização respondem às políticas públicas e avaliações externas: um olhar a partir do discurso de uma escola de alto IDEB. 2019. Dissertação de Mestrado (Educação). Universidade Estadual Paulista, São Vicente.
HAYEK, Friedrich. O caminho da servidão. São Paulo: LVM editora, 2017.
HOBBES, Thomas. Leviatã: matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. São Paulo: LeBooks Editora, 2019.
HORTA NETO, João. Avaliação externa de escolas e sistemas: questões presentes no debate sobre o tema. Revista brasileira de estudos pedagógicos, v. 91, n. 227, v.1, p. 84-104, 2010.
KEYNES, John. Teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: Saraiva Educação SA, 2017.
LAVAL, Christian. A escola não é uma empresa: o neoliberalismo em ataque ao ensino público. Londrina: Editora Planta, 2004
LOCKE, John. Dois tratados do governo civil. Lisboa: Leya, 2019.
MARQUES, J. B. Os sentidos do não aprender na perspectiva de alunos do ensino fundamental I, professores e familiares. 2018. Dissertação de Mestrado. (Educação Escolar). Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Araraquara.
MELO, Maria; RIPARDO, Maria; MARTINS, Ana. Narrando normativas escolares: O diagnóstico (psiquiátrico) como um desdobramento da educação neoliberal. Educação Por Escrito, v. 13, n. 1, p. 3-18, 2022.
MENEGÃO, Rita. G. Impactos da avaliação externa no currículo escolar: percepções de professores e gestores. 2016. Tese de Doutorado (Educação). Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
MONTEIRO, Wanessa et al. Dislexia e TDAH em projetos de lei–em foco, a medicalização de crianças e adolescentes. 2022. Dissertação de Mestrado. (Psicologia). Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Psicologia, Uberlândia.
NEFSKY, Colman. A conceptual history of attention deficit and hyperactivity disorder. 2004. Dissertação de Mestrado. Memorial Studentship for the History of Medicine, Faculty of Medicine and Health Sciences, University of Ottawa, Ottawa.
PAULA, Maria. A perda da identidade e da autonomia da universidade brasileira no contexto do neoliberalismo. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior (Campinas), v. 8, n. 04, p. 53-67, 2003.
PIRES, Natália; SILVA, Jaqueline. Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) – Medicalização da vida? Desafios éticos no ensino, na pesquisa e na formação profissional. n.1, v.1, p. 1-8, 2013
RAFALOVICH, Adam. Framing the ADHD child: History, discourse and everyday experience. 2002. Tese de Doutorado. Department of Anthopology & Sociology, University of British Columbia, Vancouver.
RÖPKE, Wilhelm. Economía y libertad. Buenos Aires: Foro de la Libre Empresa, 1960.
ROSANVALLON, Pierre. A Nova Questão Social. Repensar o Estado Providência. Petrópolis: Vozes, 1998.
SANTOS, Aline. Socialização da participação política e do poder na eleição de diretores escolares: aparência versus essência na gestão democrática da escola pública. 2018. Dissertação de Mestrado (Educação). Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba.
SANTOS, Maria; FERREIRA, Heraldo; SIMÕES, Luiza. Formação de professor e profissionalismo: Reflexões acerca da avaliação externa. Educ. Form., v. 4, n. 11, p. 161-178, 2019.
SANTOS, Daniella; TULESKI, Silvana. Medicalização no sistema de progressão continuada: inclusão ou omissão? Fractal: Revista de Psicologia, v. 32, p. 154-161, 2020.
SCHULTZ, Theodore. Capital humano: investimentos em educação e pesquisa. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973.
SINGH, Ilina. Not just naughty: 50 years of stimulant drug advertising. Medicating modern American Prescription drugs in history. New York: New York University Press, p. 131-155, 2007.
SKINNER, Burrhus. Ciência e Comportamento Humano. São Paulo, Martins Fontes, 2000.
SMITH, Adam. A riqueza das nações. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2023.
SOUZA, Vilma; RICHTER, Leonice; SILVA, Lázara. Políticas de avaliação externa e a medicalização da educação: dos sentidos do “não aprender” até o “não ensinar”. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação (Araraquara), vol.15, n.5, p. 2916-2931, 2020.
THOENIG, Jean-Claude. A avaliação como conhecimento utilizável para reformas de gestão pública. Revista do Serviço Público, v. 51, n. 2, p. 54-71, 2000.
VELOSO, Luísa; ABRANTES, Pedro; CRAVEIRO, Daniela. A avaliação externa das escolas como processo social. Educação, Sociedade e Culturas, n. 33, p. 69-88, 2011.
VICENTE, Magda; OLIVEIRA, Juliana. Políticas educacionais neoliberais e avaliação externa: experiências do SAERS em escolas públicas de Rio Grande. Linguagens, Educação e Sociedade, v. 27, n. 55, p. 1-24, 2023.
VON MISES, Ludwig. Intervencionismo: uma análise econômica. São Paulo: LVM Editora, 2018.
Téléchargements
Publié-e
Comment citer
Numéro
Rubrique
Licence
(c) Tous droits réservés Cadernos de Pesquisa 2024
Cette œuvre est sous licence Creative Commons Attribution 4.0 International.
A Cadernos de Pesquisa está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.